Juan Valdez: entre acertos e erros
Artigo analisa os desafios estratégicos da mais conhecida marca de café da Colômbia, de sua origem aos dias atuais. Para os autores, uma dúvida persiste em relação ao futuro: "e os produtores? Receberão parte dos ganhos?"
Em 2002, Juan Valdez dá mais um salto quando, após decisão da Federação Nacional de Cafeicultores da Colômbia, uma empresa é fundada com o objetivo de explorar outros nichos de mercado. Por meio da Procafecol - companhia responsável pela marca Juan Valdez, viabilizada após aportes de recursos de quase 19 mil cafeicultores - buscou-se uma ousada estratégia para alcançar o consumidor final. A alternativa encontrada: abrir uma rede de cafeterias em diversas partes do mundo, revivendo a experiência dos anos 1960 e 1970, quando a Federação tentou inserir-se - sem sucesso - nos mercados da Argentina e do México.
A fim de evitar o fracasso do ado, adaptações foram feitas. Dessa vez, o desafio era disputar consumidores com grandes redes já estabelecidas, como a gigante Starbucks. Atualmente com 134 lojas na Colômbia e 46 no exterior, a cafeteria Juan Valdez atingiu um porte considerável. Entretanto, nem tudo merece aplausos ou comemoração; resultados negativos, aliados a outros problemas, levaram a um anúncio de reestruturação do projeto e ao fechamento de várias lojas.
Onde foi que o Juan Valdez errou, então? Analistas argumentam que a crise econômica e a elevada volatilidade nos preços do café explicam o revés. Evidências demonstram, porém, que os gerentes da Procafecol têm a sua parcela de culpa: avaliações incorretas acerca do poder de fogo dos concorrentes e decisões equivocadas quanto à forma organizacional adotada pelo projeto das cafeterias explicariam boa parte dos prejuízos acumulados na última década.
Originalmente, propunha-se a gestão direta das lojas pela Procafecol, juntamente com sócios locais. Não é o que se vê agora, com a adoção paulatina do sistema de franquias e de parcerias com pontos de venda já estabelecidos, como cafeterias de aeroportos e supermercados. Dados mostram que esta mudança vem dando resultados: embora sigam dando prejuízo, as lojas Juan Valdez perdem cada vez menos dinheiro, saindo de um prejuízo de US$ 19,1 milhões em 2010 para um resultado negativo de apenas US$ 1,1 milhão no primeiro semestre de 2012. Se não chegam a ser uma grande novidade, os números ao menos demonstram que as más notícias podem estar com os dias contados.
De qualquer maneira, as perdas não podem ser associadas a um completo fracasso da Procafecol. Nos últimos 10 anos, a marca Juan Valdez estendeu o seu reconhecimento internacional, o que possibilita um ingresso mais fácil em outros canais de comercialização. Com a nova estratégia, espera-se que um menor aporte de capital para investimentos seja exigido, diminuindo, quem sabe, os custos de iniciativas futuras. Uma pergunta, porém, segue no ar: e os produtores? Receberão parte dos ganhos derivados do eventual êxito futuro do projeto?
Material escrito por:
sylvia saes
Professora do Departamento de istração da USP e coordenadora do Center for Organization Studies (CORS)
ar todos os materiaisBruno Varella Miranda
Professor Assistente do Insper e Doutor em Economia Aplicada pela Universidade de Missouri
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