Pode-se argumentar que o aumento da produtividade foi um efeito colateral já que a densidade do plantio mudou por outros motivos que vão desde o controle da ferrugem até a necessidade de mecanizar o cultivo, primeiro, e a colheita depois. Efeito colateral ou algo planejado, esta notável relação entre densidade e produtividade foi comprovada além dos experimentos através do aumento da produtividade brasileira (média de 4 anos) que ou de 14 para 23 sacas/hectare no período de 2001 a 2013 enquanto a densidade de plantio aumentou de 1.200 para quase 4.000 plantas por hectare, em média (ver gráfico abaixo).
Obviamente, o aumento da densidade não foi a única causa do aumento da produtividade – tecnologia também teve um papel chave – mas não pode ser ignorado o fato de que o maior espaçamento entre as linhas foi um grande facilitador no controle de doenças e pestes, mecanização e mudanças tecnológicas que, juntos, trouxeram o aumento na produtividade e a redução de custos que fez do Brasil uma das origens mais competitivas de café no mundo, como evidenciado por sua participação crescente no mercado global.
O fato do Brasil possuir apenas 18% da área com café no mundo, mas 35% da produção, levanta a questão de se outros países produtores deveriam considerar incrementos de densidade como fator importante para aumentar a produtividade. A contra-argumentação imediata é que há casos – regiões e países – onde altas densidades são utilizadas mas a produtividade ainda fica abaixo dos patamares observados no Brasil. A explicação pode ser que o Brasil não apenas aumentou a densidade, mas também ou a adotar o plantio em renque (grandes espaços entre linhas de cafeeiros e pequeno espaço entre os cafeeiros na mesma linha), que trouxeram resultados que não foram alcançados em outros locais onde o adensamento ocorreu usando outros sistemas de plantio.
Se o que o Brasil fez é viável em outras regiões produtoras de café do mundo e mesmo em áreas do Brasil onde a declividade é alta deve ser analisado e avaliado. Mas o cenário de falta de mão de obra e de aumento de custos de produção no mundo torna recomendável que o paradigma brasileiro seja considerado, se não como uma solução, pelo menos como um motivo para que os arranjos e densidades atuais destes locais sejam questionados.
*Este artigo foi inspirado no artigo “Espaçamento de cafezais evolui muito”, de J. B. Matiello. Mesmo tendo usado informações e conceitos do excelente artigo de Matiello, as ideias e proposições são de minha autoria e exclusiva responsabilidade.