O preço composto do café verde registrou média de 335,76 centavos de dólar por libra-peso em abril de 2025 – queda de 3,5% em relação ao mês anterior, segundo o relatório mensal da Organização Internacional do Café (OIC), divulgado em maio. A retração refletiu o impacto de fatores macroeconômicos e geopolíticos, como o anúncio — e posterior suspensão — de tarifas pelos Estados Unidos, que provocaram forte oscilação no mercado. Em paralelo, as exportações globais de grãos verdes somaram 11,64 milhões de sacas em março, recuo de 0,9% em relação ao mesmo mês de 2024, com destaque para a expressiva queda dos embarques de robusta pelo Brasil.
Preço pressionado por incertezas
Em abril, os cafés naturais brasileiros registraram desvalorização de 3,6%, encerrando o mês cotados a 378,27 centavos de dólar por libra-peso. Os robustas também recuaram, com queda de 4,4%, para 246,39 centavos de dólar por libra-peso.
Segundo a OIC, uma combinação de fatores macroeconômicos e geopolíticos trouxe incertezas ao mercado, interrompendo a trajetória de alta do I-CIP. No dia 8 de abril, o índice atingiu o menor valor em quatro meses (308,93 centavos de dólar por libra-peso), após o anúncio de novas tarifas pelo presidente dos Estados Unidos no início do mês. Um dia depois, no entanto, a suspensão temporária das tarifas por 90 dias inverteu a direção do mercado e permitiu uma recuperação imediata.
Apesar da volatilidade, os fatores de alta ainda prevalecem, segundo a organização. Entre eles, estão a menor produtividade de café prevista para este ano, conforme informado pela Cooxupé, maior cooperativa de café arábica do Brasil, e o otimismo com a desaceleração da inflação global — que deve cair de 5,7% em 2024 para 4,3% em 2025 e 3,6% em 2026. Também pesa positivamente a projeção de recuperação do PIB mundial, que impulsiona a demanda por café.
Outros fatores de sustentação são o otimismo do mercado com uma possível isenção tarifária e a existência de um mercado futuro invertido, no qual a entrega imediata do café vale mais (prêmio).
Fatores de baixa também pesam
Por outro lado, o relatório destaca elementos que podem limitar os preços, como o possível aumento do preço do café no varejo devido a tarifas de importação, o que enfraqueceria a demanda. Além disso, a inclusão do Vietnã como Origem Entregável no contrato futuro Coffee “C”®, a partir de 1º de abril, com lotes de 37.500 libras de café arábica lavado e diferencial de -600 pontos, amplia a oferta de café comercial nos portos de destino e tende a reduzir pressões altistas.
Exportações de grãos verdes em queda
Em março de 2025, as exportações globais de grãos verdes totalizaram 11,64 milhões de sacas, uma queda de 0,9% em relação a março do ano anterior. Foi o terceiro mês consecutivo de retração no ano cafeeiro 2024/25. Com isso, o volume acumulado entre outubro de 2024 e março de 2025 chegou a 60,63 milhões de sacas — 3,2% a menos do que no mesmo período de 2023/24 (62,62 milhões).
Os cafés naturais brasileiros caíram 2,4% (3,49 milhões de sacas), enquanto os robustas recuaram 8,4% (4,55 milhões de sacas). A principal responsável pela queda dos naturais foi a retração das exportações do Brasil, que diminuíram 9,4% (de 3,07 milhões para 2,78 milhões de sacas). A OIC atribui esse desempenho ao efeito-base e à natureza cíclica da produção brasileira de arábica. Em 2023/24, o país teve um “ano de alta”, com aumento de 21,4% nas exportações de naturais no acumulado anual e alta de 16,1% em março de 2024 em relação a março de 2023.
A Etiópia ajudou a suavizar o impacto da queda brasileira, com um salto de 65,4% nas exportações — de 0,26 milhão para 0,43 milhão de sacas — impulsionado pelo adiantamento do envio da nova safra 2024/25 e pela liberação contínua de estoques em maior volume, diante dos preços internacionais elevados.
Já no caso do robusta, o Brasil foi o principal responsável pela queda, com retração de 83,6% nas exportações, que aram de 0,85 milhão para apenas 0,14 milhão de sacas. A forte redução reflete a normalização dos volumes após um período atipicamente elevado, entre julho de 2023 e dezembro de 2024.
Nos seis primeiros meses do ciclo 2024/25, a participação dos cafés arábicas no total das exportações de grãos verdes aumentou de 59,7% para 63,0%.
África se destaca; América do Sul recua
As exportações mundiais de todas as formas de café cresceram 0,6% em março de 2025, em comparação com o mesmo mês de 2024, totalizando 13 milhões de sacas.
O maior destaque foi a África, com alta de 36,3% (1,58 milhão de sacas), no décimo sexto mês consecutivo de crescimento da região. Etiópia e Uganda lideraram o avanço, com aumentos de 65,8% (0,63 milhão) e 72,9% (0,57 milhão de sacas), respectivamente. A OIC atribui os bons resultados à combinação de safra favorável, preços internacionais elevados e adiantamento das exportações.
Em contraste, a América do Sul teve queda de 15,9%, somando 4,64 milhões de sacas — o quarto mês seguido de retração, após 14 meses consecutivos de crescimento. O desempenho negativo se deve principalmente ao Brasil, que viu suas exportações caírem na mesma proporção. A forte base comparativa explica o resultado: em 2023/24, o país exportou 49,03 milhões de sacas, um recorde, 34,3% a mais do que no ano anterior.
Esse aumento foi, em grande parte, uma resposta a problemas de oferta no Vietnã, que enfrentou uma safra fraca em 2023/24, reduzindo suas exportações em 11,7% — uma perda líquida de 3,31 milhões de sacas. Agora, com o Vietnã abastecido pela nova safra 2024/25, a demanda sobre o café brasileiro diminuiu.
Solúveis e torrados em alta
Só no mês de março, as exportações de café torrado registraram alta de 27,3%, totalizando 82.684 sacas, enquanto os cafés solúveis cresceram 15,6%, atingindo 1,28 milhão de sacas.
Estoques certificados
Os estoques certificados de robusta em Londres recuaram 3,1% entre março e abril de 2025, encerrando o mês em 0,71 milhão de sacas. Em sentido oposto, os estoques de arábica certificados aumentaram 6,4%, somando 0,85 milhão de sacas no final de abril.
O relatório completo da OIC referente a abril de 2025 pode ser ado aqui.
Fonte: OIC